2 de janeiro de 2013

A Death e o ferreiro, por Vitória Aparecida Leite da Silva



Há muito tempo atrás, dois reinos vizinhos entraram em guerra. Foram tantas batalhas que a Death se cansou de trabalhar. Levava gente de manhã à noite, mesmo aos domingos. Quando tudo terminou, sete anos depois, a gadanha dela tinha perdido o fio e quebrado a ponta. 

Então a Death procurou um ferreiro, numa pequena aldeia, perto do último campo de batalha. Ele era um homem valente, não se assustou ao ver a Death parada na porta. 

- Já chegou a minha hora? 

- Não. Preciso dos seu serviços!!! 

A Death mostrou a gadanha. 

- Precisa de uma lâmina nova - O ferreiro disse - Vai demorar um pouco. É melhor a senhora se sentar. 

- Eu nunca sento. - A Death respondeu. 

Entregou a gadanha e ficou num canto confundida com as sombras. 

O ferreiro segurou a gadanha, sentiu o peso dele e disse: 

- Parece uma gadanha comum. 

- Na mão dos outro é uma gadanha comum. - a Death disse. 

O ferreiro trabalhou a noite toda. Pela madrugada, a gadanha estava com uma lâmina nova. Chegava a brilhar de tão afiada e pontuda. 

A Death saiu das sombras, pegou a gadanha, examinou-a. 

- Ficou muito bom ferreiro. Quanto lhe devo? 

- Nada. 

- Então, obrigado. Até outro dia! 

- Espere aí. Quero um favor em troca. 

A Death esperou. 

- Quero que a senhora me avise com antecedência quando morrerei para que eu possa me preparar pra minha hora. 

- Avisarei. - ela disse sem nem se virar, e sumiu na rua. 

Anos e anos se passaram. O ferreiro nunca mais teve notícias da Death. Na verdade até se esqueceu dela. 

Uma noite, voltando para casa, viu um brilho branco nas sombras. Eram os dentes da Death sob o capuz preto. O ferreiro disse: 

- Tudo bem?Veio me avisar? 

- Não. Vim buscá-lo. 

- Mas como?! A senhora prometeu que ia me avisar com antecedência! 

- Eu avisei... 

- Não recebi nenhum aviso. 

- Seus cabelos ficaram brancos? 

- Ficaram! 

- Seu rosto encheu de rugas? 

- Sim! 

- Suas pernas ficaram fracas? 

- Ficaram, estou até usando bengala! 

- Suas costas encurvaram? 

- Encurvaram! 

- Então, ferreiro? Quantos avisos mais você queria? 

- Mas, velho assim eu posso morrer com oitenta, com cem ou cento e vinte. Esses avisos não me servem. Quero com hora e lugar certo. 

- Está bem. Dentro de sete dias, aqui no jardim. - A Death disse e sumiu. 

O ferreiro ficou quieto, pensando. Sete dias não era muito. Precisava se apressar. 

Mas o ferreiro não se apressou. Nesses sete dias, fez o que sempre fazia, do jeito que fazia. Apenas passou o tempo com os netos, contando histórias. 

Quando o prazo se encerrou, ele estava no jardim, à espera da Death

Ele não disse nada. Ela também não disse nada. 

Foram andando juntos, como velhos amigos. 



Vitória Aparecida Leite da Silva, 10 anos. 
E.M.E.B Prof José Antônio Bortolozzo. 




--
História realizada durante a aula de Inglês com o intuito de cultivar e conhecer a cultura local, sob orientação da Professora Joyce C. L. Gomes.



Joyce Cristina Leme Gomes
Professora da Rede de Ensino de Poá, Graduada em Letras (UBC), Graduando em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda (UMC). É voluntária como Secretária na Diretoria Executiva, bem como na Comunicação da Organização Não Governamental (ONG) Associação Cultural Opereta. Atualmente desenvolve o blog da Associação Cultural Opereta, Joyce Gomes: Professora e Publicitária e Cantinho das Letras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário