19 de janeiro de 2010

Resenha: Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da Gramática no 1o e 2o Graus

A obra é dividida em duas partes, onde o tema é distribuído em 13 (treze) capítulos. Na primeira parte são abordadas questões fundamentais para o ensino da gramática na segunda parte passa por uma visão de como tem sido o ensino de gramática nas escolas de 1ºs e 2ºs Graus, apresenta uma proposta para o ensino de gramática calçada nos vários tipos de gramáticas exemplificando em especial, o trabalho da gramática reflexiva.


Inicialmente o autor apresenta 04 (quatro) respostas que fundamentam o questionamento: “para que das aulas de português a falantes nativos de português?”

Dentre as referidas respostas especial importância da aquela que se justifica prioritariamente pelo objetivo de desenvolver a Competência Comunicativa. Evidência que para a execução desse objetivo deve-se propiciar o contacto e o trabalho do aluno com textos utilizados em situações de interação comunicativa o mais variado possível.

No tópico “concepções de linguagem” destacam as figuras do professor e sua concepção sobre língua e linguagem, deixando claro sua tendência para a concepção que é a linguagem como forma ou processo de interação, na qual o indivíduo, ao usar a linguagem realiza ações sobre o interlocutor e não apenas traduz pensamentos ou transmite informações. Para dar maior tônica a esta concepção cita Neder (1992:42/43).

“A verdadeira substância de linguagem não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas, nem pele enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada pela enunciação ou pelas enunciações. A interação verbal constitui assim, a realidade fundamental da linguagem.”

Deixa consignado que o diálogo em sentido amplo, caracteriza a linguagem e que essa concepção é representada por todas as correntes que podem ser reunidas sob o rótulo de lingüística e comunicação.

A concepção de gramática liga-se também aos conceitos, o que é considerado erro ou não e também os tipos.

A primeira concepção vê a gramática como regra de bom uso e afirma que a língua é só a variedade padrão e tudo que desvia deste padrão é “erro”. A esta concepção corresponde a gramática normativa. Assim nesta mesma linha, segue a gramática descritiva e a internalizada acrescentando outros vários tipos, uns ligados a explicitação da estrutura e do mecanismo de funcionamento da língua, outros ao objeto de estudo, aos objetivos etc.

Travaglia (1995) destaca a gramática explicita, ou teórica, reflexiva e implícita, representam uma distinção muito produtiva na questão do ensino de gramática e relacionam –se diretamente a distinções entre atividades lingüísticas, epilinguísticas e metalingüísticas.

Halliday, Uclntosh e Strevens (1974: 257-287) destacam três tipos de ensino a serem realizados ao ensinar uma língua: prescritivo, descritivo e produtivo que correspondem respectivamente em substituir o errado pelo certo, mostrar o funcionamento da linguagem e da língua em particular e ensinar novas habilidades linguísticas.

Para Travaglia (1995), o tipo que mais adequado ao objetivo de ensino da língua materna é o ensino produtivo. Chama a atenção quando aos três tipos dizendo que não são excludentes e podem ser trabalhados simultaneamente. Todavia, ressalva que o ensino descritivo e prescritivo, embora muito praticado nas aulas causa prejuízo na formação dos alunos, restringido sua competência comunicativa.

É sabido que existem inúmeras variedades lingüísticas e que tradicionalmente a sociedade insiste em considerá-los com “erro”. Acreditando-se que em diferentes situações deve-se usar a língua de modos variados, não há porque insistir em ensinar apenas a variedade padrão, o que seria incompatível com o objetivo do ensino de língua. Essas variedades são dúvidas em dialetos e registros que ocorrem em função das pessoas e do uso que se faz da língua.

Importante não se esquecer que texto e discurso não são a mesma coisa. Texto é entendido como uma unidade lingüística concreta tida como produto concreto da atividade comunicativa condicionando as regras e princípios discursivos sócio – historicamente estabelecidos; O discurso, visto como qualquer atividade produtora de efeitos de sentido entre intervalo – autores , cuja teoria é definida como a teoria da determinação histórica dos processos semânticos, onde a presença do social e do histórico nessa determinação é a manifestação da exterioridade no texto que é constitutiva da linguagem.

Neste tópico é discutido amplamente cada elemento da definição e enriquecida com exemplos, deixando claro para o leitor a distinção entre os dois institutos.

A segunda parte inicia abordando as questões para que se ensina de que naturalmente vai derivar o como se inicia. Nessa abordagem aproveita-se de elementos de um levantamento feito por Neves juntamente com os elementos extraídos de experiências do autor com o ensino de gramática.

Nos estudos de Neves podemos ver com clareza as questões citadas no parágrafo anterior.

Em resposta a pergunta “para que ensinar a gramática?” fica registrado que a maioria dos professores refere-se ao desempenho ativo (melhor expressão, comunicação e compreensão) os demais que representam uma minoria se decidem em questões normativas, finalidades teóricas e cumprimento do programa pré-estabelecido.

“Para que se usa a gramática ensinada?” A maioria refere-se ao melhor desempenho lingüístico (falar e escrever melhor) ligado mais ao sucesso da vida prática e na sala de aula que ao próprio objetivo do ensino da gramática. Daí concluírem que é desnecessário o ensino da gramática.

Quanto ao que é ensinado, Neves registra também o que deve ensinar. Apresenta uma lista, onde aponta as áreas de programa de língua portuguesa mais trabalhados que são classificação de classes de palavras e funções sintáticas.

Sobre o que deve ensinar, Soares (1979 Cap 9) afirma que não há consenso sobre o ensino de gramática e isso leva a uma diversidade de posições conseqüentemente emanadas das secretarias de educação e delegacias de ensino, diferentes da formação de professores e de influencia de livros didáticos.

Neves ao registrar Como é ensinada gramática aponta uma camuflagem de ensino textualizado, onde os professores declaram partir de textos para a exercitação gramatical, porém, verifica que o texto funciona apenas como um compartimento de onde se retiram frases e palavras ganharão, fora dele, autonomia própria.

Soares apresenta três orientações metodológicas mais freqüentes para o ensino da gramática, mostrando na abordagem de cada resultado negativo que não habilitam os alunos usar a língua para resolver problemas de comunicação quando têm que atuar.

Neves, num balanço geral da questão registra, em síntese a atitude dos professores, o reconhecimento dos problemas básicos.Quanto à resistência obstinada à mudança, cita Possenti e Ilari que dizem que essa resistência se deve talvez, à imagem que a sociedade tem do ensino de língua materna e como deve ser o professor o qual busca muito mais legitimar o seu papel do que fazer algo que represente um ensino significativo para a vida de seus alunos.

“Uma proposta para o ensino de gramática”

O autor apresenta uma proposta baseada nas abordagens dos capítulos anteriores, contudo, desvia do objetivo de ensino da língua materna.

Propõe que o ensino da gramática seja voltado para uma gramática de uso e para uma gramática reflexiva, tendo a gramática teórica e a normativa apenas como auxiliares, lembrando-se sempre a questão da interação e do texto como um todo.

Sugere um ensino produtivo e um redimensionamento do ensino descritivo e prescritivo.Quanto a gramática deve ser trabalhada numa perspectiva textual, passando a integrar a tudo que é utilizado na construção e uso dos textos.Ainda sobre a gramática explica que tendo em vista o objetivo proposto como prioritário para as aulas de língua materna pode se trabalhar com as quatro formas ao mesmo tempo no mesmo conteúdo e para uma mesma turma, dosando cada uma de forma a atingir com eficiência o objetivo perseguido. Esclarece, no final, que a gramática da língua é uma só, o que se separa e nomeia são tipos de atividades de ensino da gramática.

Nos capítulos seguintes o autor enfoca cada tipo de gramática (de uso, reflexiva, teórica ou normativa), apresentando várias atividades amplamente exemplificadas.

A gramática de uso é aquela aprendida do meio, ou seja, fora da escola, mediante o processo interativo. No ensino se estrutura em atividades dos seus mecanismos e também os princípios de uso dos recursos das diferentes variedades da língua.Nesta modalidade os elementos descritivos não são explicados. Sua preocupação é ensinar a língua e não sobre a língua.

Interessante destacar que as atividades que melhor atende a seus objetivos são os exercícios estruturais que podem ser trabalhados juntamente com outros tipos de atividades gramaticais, ou seja, com outras gramáticas.

A gramática reflexiva segundo Soares. É um trabalho de reflexão sobre o que o aluno já domina. Travaglia (1995) concorda, mas acrescenta que há também um trabalho sobre recursos lingüísticos que ele ainda não domina, ampliando sua capacidade de uso e realizando um ensino produtivo e não apenas descritivos.

Ressalta ainda a possibilidade de se fazer dois tipos de trabalho dessa gramática:

Um representado por atividades explicativas; outro - constituído por atividades reflexivas voltadas à semântica e à pragmática.

Quanto a gramática teórica sugere um redimensionamento, desviando-a de um fim em si mesma; utilizando-a como um recurso a mais no desenvolvimento da competência comunicativa. Apela para o bom senso do professor que, desta forma, terá facilitado o seu trabalho, vez que reduzirá e selecionará informações, restringindo apenas ao objetivo primordial que é o desenvolvimento da competência comunicativa.

Para finalizar, enfocar a gramática normativa abordando aspectos fundamentais na questão do ensino da gramática.Chama atenção para a distinção entre regras de gramática normativa que aparecem nos manuais e parte de gramática descritiva destes mesmos manuais adverte também sobre o cuidado que se deve ter ao ensinar as normas, e mostra exemplificando como isso é feito.

No que foi exposto Travaglia (1995) diz que a gramática é indispensável para a produção e compreensão de qualquer texto. Deixa claro que trabalhando a gramática na perspectiva da interação comunicativa e do funcionamento textual-discursivo o professor chegará certamente ao objetivo primeiro do ensino da língua.

TRAVAGLIA, L.C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da Gramática no 1o e 2o Graus. São Paulo: Cortez, 3a ed. 1995.

Geralda Luiza da Silva da Cunha 168.558
Cibele Aparecida Brandão 163.369
Joyce Cristina Leme Gomes 163.388
Daniela Feitosa de Sousa 170.385

Língua Portuguesa A - Sintaxe - Letras - Prof. Dr. José Miguel Mattos - UBC

3 comentários:

  1. Olá, gostei da resenha muito boa! Queria uma ajuda sua se puder, se vc tiver e/ou souber onde tenha um link q me leve ao livro de Luiz via download,pois to tentando achar mas nada até agora... =/


    Abraço!;D

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  2. Dessa forma ,O entendimento de gramática de Travaglia tem um entendimento com clareza.

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