18 de janeiro de 2010

Estudo de caso (sociolinguistica)


Uma professora de Mato Grosso vai para a periferia da cidade de São Paulo lecionar. Os seus alunos paulistanos estranham e caçoam da sua maneira diferente de falar em grande parte do tempo da aula e comentam, uns com os outros, sobre esse modo da professora mato-grossense se expressar. Ela percebe o acontecimento, fica agitada e chama à atenção deles, porém, não sabe como lidar com este fato. Nota-se pela sua atitude a falta de conhecimento sociolingüístico. Como a professora deveria proceder nesta situação – problema com o pouco conhecimento de sociolingüística que a foi transmitida?

A situação – problema proposta permite-nos fazer uma analogia com o livro A língua de Eulália, de Bagno (2001). Neste livro, três jovens estudantes universitárias vão passar as férias com a tia de uma delas que é, também, professora de língua portuguesa. Ao chegar em Atibaia, as jovens reparam no modo “caipira” de Eulália falar. A empregada da professora Irene não teve acesso aos estudos quando era jovem e Irene se prontificou a ensiná-la e algumas outras pessoas daquela região que passavam pela mesma situação. Mesmo participando dessas aulas, Eulália, ainda, falava muito “errado”.

Para Bagno (2001) esta ocorrência é tão comum acontecer, pois, foi imposta pela sociedade que as demais localidades interioranas devessem seguir o estereótipo lingüístico das cidades mais importantes do Brasil, ou seja, estas localidades deveriam seguir o estilo de falar da capital do estado de São Paulo, Rio de Janeiro, entre algumas outras, pois, acreditam que é a maneira correta de se falar a língua portuguesa.

Primeiramente, precisaríamos saber a faixa etária, o sexo, a situação social desses alunos, entre outras informações necessárias, para poder ajudá-la na situação em que ela se encontra, pois, existem as variantes sociolingüísticas e foi explicitado, apenas, a variante geográfica, enquanto, as demais foram ocultadas desta situação – problema para se compreender um pouco melhor o fato da professora ter sido julgada. Mas afinal, ela foi julgada, apenas, pelos seus modos lingüísticos?

Independente da idade desses jovens, a professora deveria se aprofundar na sociolingüística, pois, observa-se no fato citado que ela não possui esta teoria como deveria. Com o aprofundamento na referida teoria lingüística, tornaria mais fácil a convivência com os seus alunos paulistanos e poderia exemplificar com Bagno (2001:18) ao retratar o mito da língua única: “No Brasil não se fala uma só língua. Existem mais de 200 línguas ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações indígenas e pelas comunidades de imigrantes estrangeiros que mantém viva a língua de seus ancestrais”. E completar com o que Possenti diz em sua obra Por que (não) ensinar gramática na escola (1996:85), “todo falante – e as crianças são sob esse aspecto quase tão sagazes quanto qualquer adulto – sabe avaliar o valor social das expressões, perceber quando soam “estranhas”, “gozadas”, “malcriadas”, ou quando identificam o falante como estrangeiro, ou como originário de outra região ou classe social”. E ainda, segundo Possenti (1996:88): “o aluno aprendeu o dialeto com o qual tomou contato falando e ouvindo ativamente, na maior parte na própria família, algumas coisas com outras crianças da sua idade, outras com os marmanjos que lhe ensinam alguns dos segredos da vida, outras assistindo a programas de televisão”.

O meio social em que a pessoa se encontra, possibilita um contato direto com a língua e as suas variações. Possenti (1996:93) complementa esta idéia ao dizer que “a língua nos dá sempre várias alternativas, e saber uma língua ativamente e “utilizá-la” como sujeito é em boa parte saber dizer uma coisa de muitas maneiras”. E Bagno (2000), em sua obra preconceito lingüístico, completa que “nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim, como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico.

Então, a professora mato-grossense deveria apresentar a língua de acordo com as características que Bagno (2001) oferece, concluindo com exemplos da vida cotidiana as diferenças geográficas, históricas, social, estilística e apresentar, também, a diferença entre a escrita e a fala. Ela deveria diferenciar a língua da seguinte forma: a língua portuguesa não padrão é natural, a padrão é artificial; é transmitida e a outra é adquirida; e, é aprendida em ambos os casos, respectivamente. Ainda se tratando da língua oral, na língua portuguesa não padrão ela é funcional, enquanto, na portuguesa padrão é redundante; aquela é inovadora, enquanto, esta é conservadora; aquela é de tradição oral enquanto esta é de tradição escrita; aquela é estigmatizada e esta é prestigiada; a primeira é marginal, enquanto, a segunda é oficial; e, a primeira possui tendências livres, ao passo que, a segunda possui tendências refreadas.

REFERÊNCIAS:

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália. SP: Contexto, 2001.
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico. SP: Ed. Loyola, 2000.
POSSENTI, Sírio. Por Que (não) Ensinar Gramática na Escola. SP: Mercado das Letras, 1996.

Marli Bastianelli RGM: 153.157
Alessandra 153.342
Adriana da Silva 163.342
Joyce Gomes 163.388
Prof. Sônia Alvarez Lingüística A - 4ºLN - Data: 24-10-03
Universidade Braz Cubas – Letras

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